quarta-feira, abril 26, 2006

Internet acessível ... mas não a todos

Dominiqe Wolton discutiu e questionou em muitas das suas obras até que ponto é que a Internet bem como outras novas tecnologias eram fonte de desigualdades sociais, em algumas delas o autor defendeu também que a Internet não era um instrumento significante para o desenvolvimento ou para um aumento da democracia.

Será que a Internet pode tornar-se numa fonte de novas desigualdades? Penso que sim. Na verdade, sendo uma tecnologia que requer determinados conhecimentos específicos e técnicos, a Internet nunca poderá estar acessível a toda a população mundial. Esta tecnologia tem também a característica de exigir infra-estruturas físicas que não existem a nível global a não ser nas nações mais desenvolvidas. Um exemplo do carácter pouco democrático da Internet reside no facto de os idosos ou os indivíduos com deficiência não terem possibilidade de ter um acesso total à informação disponibilizada na rede. Perante cenários de desigualdade como este, surgem associações como a Digital Divide Network, que pretende eliminar o fosso digital que existe entre nações ou mesmo no interior delas, facilitando a integração das populações numa sociedade altamente tecnológica e em constante evolução.

Já no caso da afirmação em que refere que a Internet não é um instrumento significante para o aumento da democracia, existem argumentos susceptíveis de contrariar ou de corroborar a opinião do autor. Na verdade, a Internet poderá ter um considerável poder no aumento da democracia, disponibilizando a informação de forma mais generalizada e tornando-a acessível a todos. Desta forma aumenta a transparência relativamente a acontecimentos de tipo social e relacionados com o poder político, aumentando também a participação da população na discussão dos assuntos públicos e portanto de interesse geral. A informação torna-se acessível a todos os que tenham acesso à rede diminuindo a fossa que existe entre os peritos e os cidadãos comuns.
Mas não devemos esquecer o reverso da medalha. Vivemos numa sociedade da informação em que o mais importante para o sucesso social e material dos indivíduos passam pela capacidade que as TIC fornecem no que diz respeito ao acesso, organização e produção de informação e conhecimento. Mas o que acontece aos que não têm esta capacidade de acesso, organização e produção? Quando já a maioria dos serviços são já totalmente realizados online, e muita informação de alta importância é gerada, alojada e disponibilizada na rede, o que podem fazer aqueles que não podem aceder à rede? Perante esta realidade muitos governos como por exemplo o alemão e brasileiro têm agido no sentido de promover o acesso universal à rede e a formação da população tendo em vista a sua utilização efectiva e eficiente.

De qualquer das formas, e quando observada de forma objectiva e distanciada, a Internet é considerada a forma mais democrática de facilitar o acesso à informação. Os seus conteúdos são inegavelmente úteis no campo da educação podendo aumentar o conhecimento dos seus utilizadores disponibilizando uma vasta quantidade de informação de uma forma célere e eficiente. Mas será que estas potencialidades estão acessíveis a todos? O que acontece àqueles que não têm acesso a estas novas tecnologias?

Sendo assim são várias as conclusões que podemos tirar. Que como instrumento que disponibiliza a informação de forma ubíqua e portanto democrática, a Internet continua a não estar democraticamente distribuída quer entre nações quer entre os diversos sectores da sociedade. Que os potenciais deste instrumento ainda não foram adequadamente esclarecidos e disseminados de forma homogénea. E finalmente, que a criação de uma Ineternet 100% democrática é um objectivo utópico, visto a própria organização em rede que este instrumento exige ser já uma condicionante no que diz respeito ao livre e democrático acesso à informação.

1 comentário:

Carla Ganito disse...

um excelente comentário. Bem estruturado e sustentado, especialmente pelas referências a Dominique Wolton que é um dos grandes críticos da Internet como potencial fonte de coesão social.